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terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Café-com-Leite

Tomar um bom café-com-leite e ficar de meia vagando pela sua casa, sozinha.
Quando você começa a adotar este tipo de comportamento, pode ter certeza.
Você está ficando velha. E, atenção (ao dobrar a esquina!), não há nada de errado com isso.
Afinal, a idade traz a sabedoria. Sabedoria é um negócio que faz você ficar sabido, sabendo um bando de coisa.
Você sabe, por exemplo, que ficar vagando de meia pela casa falando com as paredes pode ser melhor do que ficar vagando pela rua falando com as pessoas.
Como a atividade de ermitão é condenada pelo nosso meio social, ficamos com culpa.
É então que surge a prece meteorológica milagrosa.
Uma prece que existe desde que o mundo é mundo, muito antes do aquecimento global.
Uma espécie de reza em que você roga ao deus da meteorologia para que caia uma
chuva daquelas. Lá de onde eu venho, um toró. E que a cidade alague,
rios se formem e uma nevasca, uma neve, uma chuva granizo, paralize a vida.
Porque a culpa faz com que você sofra quando fica em em casa vagando ao invés de ir num show de indies e seus casaquinhos.

Mas o toró não vem.
E você acaba sua noite num evento de indies e seus casaquinhos.
Aos ouvir os primeiros acordes clichês de mais uma banda incrível que é o novo berro da modernidade,
você pensa: café-com-leite.

Mas um dia o deus da meteorologia me ouvirá.
E poderei dispensar vários eventos.
Festas de mash-up, de funk e exposições. E pessoas.
Choverá canivetes e meu cobertor é testemunha de que não existirá a menor possibilidade de sair.
Que chova, então, até o final dos tempos
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